segunda-feira, 27 de julho de 2020

Mulheres fazem sabão caseiro para distribuir em comunidade do DF

A cerca de 20 quilômetros do Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente Jair Bolsonaro, em uma das regiões mais carentes do Distrito Federal, três mulheres encontraram um meio de produzir sabão caseiro para ajudar a comunidade local a combater a covid-19 em um território que já convive diariamente com a falta de outros itens básicos, como água potável e rede de esgoto.
Moradora recebe um garrafa pet com detergente líquido, na Cidade Estrutural
Katia Cristina, Cãdance Costa e Marisa Araújo produzem juntas cerca de 200 litros por semana de produtos para higiene. Sabonete, sabão e detergente. Tudo é distribuído entre cem famílias que vivem na Cidade Estrutural, região do Distrito Federal que abrigava, até poucos anos atrás, um aterro sanitário e hoje é o lar de cerca de 40 mil habitantes.

Na região, ao menos 13% das casas não têm acesso à rede de água e 38% não têm esgoto, conforme dados da Companhia de planejamento do DF (Codeplan). Já são mais de 700 casos de covid-19 na comunidade, todos dependentes de apenas um posto de saúde. Segundo a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), essa situação ocorre porque parte da região da Estrutural não é regularizada, o que impede a instituição de atuar na região.
As mulheres aprenderam a fazer sabão há dois anos, mas até a pandemia, nunca tinham aplicado efetivamente a nova habilidade. "Só agora, percebemos que podíamos ajudar com o sabão, mas tínhamos de agir rápido", diz Marisa, dona do quintal onde foi instalada a fábrica do sabão solidário.
O grupo passa horas fazendo os produtos com materiais doados e reciclados. Uma vez por semana, realizam uma peregrinação em busca de restos de frutas e óleos na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do DF (Ceasa). Elas também colhem folhas de mamona e outras ervas pelos terrenos baldios próximos de suas casas. "Dessa terra emana o mel. Tudo o que precisamos, conseguimos aqui mesmo", diz Cãdance, que também é responsável também pelo cadastramento manual dos moradores interessados em receber o sabão.
Mãe de quatro filhos, Marisa conta que a necessidade de fazer os produtos não veio só pela prevenção, mas também para ajudar na redução de gastos das famílias. "Eu mesma gasto muito sabão lavando roupa para quatro filhos, as coisas ficam mais caras com o isolamento."

O sabão tem ajudado pessoas como a vendedora ambulante de doces Neiderlan Ramos de Jesus, que sentiu na pele o impacto em seu orçamento, por causa da crise. Com as escolas fechadas, grande parte de sua renda ficou comprometida. Em consequência, não conseguiu completar a obra em seu telhado. Subiu apenas as paredes do cômodo. Para fugir do frio, tem dormido em uma barraca, em cima da cama, com sua filha de 3 anos, Eleonora. "O sabão veio em boa hora. Toda vez que saio com a minha filha, lavo a roupa na volta, são três trocas por dia, gasto muito com sabão."

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